sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Bertha, Rory, Ann and Me

23/12/2016 - Galway - IR


Mais um final de ano. Mas dessa vez diferente. 2016 não foi um ano fácil, pelo contrário, muito pelo contrário, superou todas as expectativas em decepção que eu mesma poderia conceber. E principalmente, meus pais.
O peso que eles tiveram esse último semestre me diz sobre coisas das quais eu não percebia antes. Das quais eu não queria saber, na verdade. Sobre coisas que eu sempre fugi.
23 de Dezembro de 2016, os últimos dias do ano continuam me trazendo desgraça. Chegamos no tempo de Natal e recebo Rory e Bertha de cara limpa e feliz aqui em Galway. Mas a resposta não é recíproca.
Em menos de 1 hora de estadia, Bertha começam as perseguições. Começam os cochichos sobre mim e as conversas ofensivas a meu respeito, e pelas minhas costas. Mas ela não disfarça. Ela não está nem aí.
O dia vai passando, e eu continuo ouvindo ofensivas sobre meu caráter, minha índole e os meus feitos. Nada passa batido na conversa dela com Ann. Eu nao merecia estar aqui perto de ninguém. eu não mereço a família que tenho. Eu sou um lixo. Eu não posso ser a filha dela, sem ser diminuída quase 100% do tempo.
Eu não consigo parar de pensar por um minuto em tudo isso. Eu não consigo parar de chorar. Meu sentimento chegou ao fundo de um poço sem esperança ja. Meu coração não encontra mais o dela. Não há abertura.
Todos os cochichos, as acusações, os deboches, e o desprezo, além de ouvir, eu consigo sentir. De dentro. Consigo ver o ódio e o rancor que ela tem comigo.
Consigo sentir o mal que faço pra toda a família. E, de alguma forma, sinto que nunca vou poder satisfazer qualquer expectativa guardada por ela. Justamente, eu acho, porque não há mais.
Ela desistiu de mim.
Ela não me quer perto. Ela nao me quer feliz. Ela nao me quer seguindo em frente.
Ela resolveu não esquecer. Não seguir em frente. E é uma escolha que ela fez.
Não há mais abertura.
Não existe chegar perto. Não existe viver junto.
Ela está passando por dificuldades muito apertadas com os negócios. Ela está debilitada, tá cansada, fatigada, desencorajada e depressiada. Mas, porque ela volta isso contra mim?
São 8:31 da manhã, to acordada desde das 10 horas da manhã passada. Não consigo entender porque ela ainda persiste em me atacar. Sempre. Pesado. Sem refresco.
Num primeiro momento, a minha reação é chorar, me isolar. Ficar quieta. Ler meus livros, tenho um monte deles. Não consigo revidar.
Revidar significar falar da boca pra fora. Para atingir, pra ofender, pra diminuir.
Não quero isso. Não quero falar o que eu não quero dizer.
Mas o tempo passa, e a pressão aumenta.
Rory não aguenta mais me ver chorar isolada e triste. E revida por mim, e com a melhor tática, Ironia.
Porque eu não consigo??
O clímax se aproxima mas pelo intermédio dela mesma, da Rory. Quer resolver os pontos, ela quer acertar todo mundo. Afinal de contas é Natal, Fim de Ano, vamos celebrar!!
Ela diz:
_ Você não está fazendo a coisa certa! Você tá deixando ela ganhar! Você tá levando desaforo e isso ta te matando.
Ela não entende.
Eu não quero mais violência com violência.
Eu quero poder fazer ela refletir. Agora eu não consigo. Mas eu confio que isso um dia aconteça.
Não quero ficar triste. Não quero mais chorar, incompreender toda essa relação de desprezo, de ódio, de ameaça.
Ela diz:
Você tá agindo da pior forma! Você não socializa, você não é pró-ativa, você não quer saber. Você banca a ‘Não sou obrigada’ e se fecha no quarto. Você tá dando motivo.
Uma coisa: Ninguém é obrigado. E quanto a humilhação muito menos. Eu ouço elas de graça. Por nada. Só pelo prazer odioso de outra pessoa.
Então eu resolvi apelar. Resolvi seguir os conselhos da Rory. Fui pra luta. Falei o que eu não queria. Falei o que eu não devia. Mostrei meu desprezo de volta. Mostrei a minha dor pela ofensa. Assim como ela faz.
E deu tudo errado.
Não saiu porrada porque Rory segurou ela. Porque ela ia me pegar!
Mas… eu realmente não quero dizer aquelas coisas. Eu não acho aquilo dela. É claro que não. Todo mundo erra. E, eu sendo prova disso, sei que ninguém merece viver do erro.
Ninguém é seu próprio erro. Não existe 1 erro. Existe vida. Se tem erro, tem acerto.
A moral da história - que não acabou ainda, quem me dera tivesse - é a intuição.
Se eu tivesse seguido meus instintos nada disso teria acontecido. A bomba não teria sido explodida.
Se eu me mantivesse segura, mesmo com todas as pressões, agora eu estaria dormindo, e não com vontade de sumir, de fugir, e até de morrer.
Bertha suga as minhas forças. Ela pisa no meu sentimento.
Mas como lidar com isso sendo ela sua mãe? Não sei o que fazer.